Por Alberto de Avellar – Existe um grande diferencial entre ser blogueiro, influenciador digital e Cronista Político. O cronista, ao contrário das figurinhas midiáticas que surgem como erva daninha em época de eleição, precisa observar com lupa e ironia todos os personagens do tabuleiro político — municipal, estadual, federal e, quando necessário, até internacional.
Em Simões Filho, essa observância técnica não difere de outros municípios da Região Metropolitana da Grande Salvador — a 4ª maior cidade do Brasil. O que muda, claro, é o enredo, pois aqui o roteiro é tão imprevisível que até Shakespeare pediria reforços.
Estamos com 11 meses do Governo Devaldo Soares, o popular Del do Cristo Rei, que chegou com o slogan “Aliança para o povo de Simões Filho”, substituindo o mantra do antecessor, Diógenes Tolentino (o eterno Dinha) e seu épico “Gente Boa da Terra Boa”. Del começou jurando continuidade, como se fosse um governo-tampão entre Dinha e… Dinha 2.0.
Mas bastaram alguns meses — e alguns escândalos, claro — para o enredo mudar de gênero. Os clássicos de sempre: desvios de verbas, contratos milionários, obras de faz-de-conta, possíveis formações de quadrilha… enfim, a playlist habitual da política local.
Porém, o governo Del começou a farejar uma rota diferente. O que antes era apenas uma ponte entre dois reinados do mesmo soberano, começou a adquirir cara — e cheiro — de governo próprio. E isso abalou a mitológica “Arca da Aliança” que mantinha Del preso ao jugo dinhista há quase uma década.
A virada começou quando o deputado Eduardo Alencar, no Pod Pensar, soltou aquela frase que virou bordão de novela:
“Se Alencar está com Del, eu também tô.”
E pronto: caiu um raio no curral eleitoral da cidade.
Um rearranjo político poderoso, abrindo diálogo direto com o governo de Jerônimo e, por tabela, com Brasília. A partir dali, o eixo desgastado dos últimos 30 anos — Eduardo, Édson Almeida e Dinha — começou a rachar como casco velho.
Nasceu então o tão propagado “Novo Tempo”.
Mas não aquele “novo tempo” de jingles eleitorais…
Um “novo tempo” curioso, poético até, onde oposição e situação parecem ensaiar um balé político raro: o de trabalhar juntos (sim, juntos!) para o povo — aquele mesmo povo de onde o poder emana, mas que raramente vê esse poder voltar.
E para coroar essa metamorfose política, veio o cenário do dia 15 de novembro, Proclamação da República — o dia sagrado do princípio republicano:
“O poder emana do povo, do povo para o povo e pelo povo.”
Pois bem… o que vimos em Simões Filho?
Del do Cristo Rei e sua esposa, Fiinha, ambos negros, forjados nas dores da favela e das filas intermináveis dos serviços públicos, dançando reggae no meio da rua durante uma Caminhada Gospel.
O simbolismo é forte:
Reggae — marca mundial da liberdade e da paz — tocando alto enquanto o novo casal político quebrou o script engessado do formalismo e mostrou que, se depender deles, o “Novo Tempo” terá trilha sonora.
Acredito, fielmente e com a pitada de ironia necessária, que esse Novo Tempo de Simões Filho está prestes a se desenhar de forma real — não mais como promessa marqueteira.
E talvez, só talvez, a nova reforma administrativa consiga unir forças de situação e oposição num pacto inédito: trabalhar pelo povo, de onde o poder realmente deveria emanar.
Se vai dar certo?
Bom… em Simões Filho até o impossível é rotina.
Que venha o Novo Tempo — e que ele seja de verdade.

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