Era uma vez um cobrador de micro-ônibus, ajudante de açougue — talvez açougueiro — dono de uma mercearia que não resistiu ao tempo, e, por fim, convertido em varão de oração. Assim começou a trajetória de Del, o popular “Meio-Fio”, hoje prefeito de Simões Filho, antes apenas Del do Cristo Rei, agora Del da Fazenda Real. Um símbolo de ascensão social — ou talvez um retrato da política baiana em sua forma mais crua.
POR ALBERTO DE AVELLAR - SEMANA DAS PROFECIAS.
Del foi ungido político por Dinha, o inominável, senhor do destino de muitos, poder e das alianças duvidosas, que já havia feito carreira no comando da cidade. De auxiliar de confiança do ex-prefeito, Del foi alçado à cúpula como sucessor escolhido, sempre rodeado de orações, profecias e, segundo a rádio peão, um rastro de promessas não cumpridas.
Em tempos de fé e fervor, criou o “Projeto Fé”, um grupo social que, como a mercearia, não resistiu. Faltou apoio? Faltou fé? Ou, talvez, sobrou poder na cabeça. A verdade é que, entre orações e alianças políticas, o Del profeta começou a dar sinais de que a fé poderia ter mudado de endereço.
Conta-se que um dia, conversando com o vereador Genivaldo Lima — o Geninho — o varão de Deus disparou:
“Estou orando, e Deus me revelou que vai tirar dois políticos de Simões Filho.”
E a cidade parou.
Seria uma revelação? Uma profecia? Ou um recado enigmático em nome do Altíssimo? O curioso é que hoje, Geninho é opositor ferrenho da dupla Dinha/Del, e os dois protagonistas da atual gestão estão atolados até o pescoço em denúncias que envolvem fraude à cota de gênero, desvio de recursos e abuso de poder político e econômico. O Ministério Público Federal, o TCM e a Justiça Eleitoral já bateram à porta.
Coincidência ou justiça divina, uma nova peça entrou no tabuleiro: o juiz Leonardo Tenório, que assumiu a comarca após a pastora Ezenete, em mais uma daquelas profecias que arrepiam a espinha, prever a chegada de um novo magistrado que faria cumprir a vontade de Deus. A doutora Cláudia Paranhos, promotora eleitoral, ofereceu denúncia robusta na AIJE (Ação de Investigação Judicial Eleitoral) contra Dinha, Del e sua vice Simone — e o julgamento se aproxima.
No próximo dia 13 de agosto, testemunhas serão ouvidas e o destino dos três poderá ser selado. A cidade assiste de camarote à história que mistura religião, política, traições e julgamentos. Simões Filho, cansada de ser refém da velha política, espera justiça — ou um milagre.
Mas a pergunta que ecoa nos becos da cidade é outra: será que Del, ao profetizar a queda de dois políticos, falou em nome de Deus… ou assinou, sem saber, o seu próprio destino e o de seu criador?
A justiça divina parece ter data, hora e juiz. Que comece o juízo final.
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